O Vinte por Dez teve o prazer de entrevistar Margarida Fernandes, uma atleta que exerce duas atividades de grande exigência em simultâneo. A algarvia Maggie, para os mais próximos, ocupa a posição número 96 do World Padel Tour e o lugar número 3 do ranking da Federação Portuguesa de Padel, logo atrás de Catarina Vilela.
Entrevista a Margarida Fernandes
Vinte por Dez: Antes de mais, falemos um pouco do que ficou para trás. Qual foi a tua maior conquista nacional? E internacional?
A maior conquista nacional foi ter sido campeã nacional no meu primeiro ano de competição de Padel, 2015. Outro grande objetivo alcançado foi ter sido vice campeã nacional em 2020.
Internacionalmente, campeã da Europa da FEPA pares e equipas em 2021 ou 3º lugar, por equipa, no campeonato do mundo no Paraguai, em 2018.
Vinte por Dez: Quais foram os objetivos traçados para a época passada? Conseguiste cumprir tudo a que te propuseste?
Tinha o objetivo de melhorar a biomecânica da minha Bandeja, bola por cima a malha e vólei de esquerda. Para isso precisava de trabalhar na reeducação dos músculos do meu ombro para aprenderem a trabalhar melhor, de uma maneira mais correta para não ter sobrecarga em músculos que não era suposto e poder melhorar a estabilidade e competência do ombro. Acabei o ano de 2020 com a mão dormente por ter tanta tensão muscular acumulada que estava a comprimir o plexo braquial.
Com este trabalho consegui ter uma época de 2021 mais estável, que me permitiu ter uma pré-época em 2022 sem tanta dor, com mais estabilidade no ombro. Sinto que tenho agora mais estabilidade e que posso ser uma jogadora mais competente. A nível de jogo, ter mais tranquilidade a jogar e saber decidir com mais critério.
Em termos de resultados, tinha o objetivo de fazer 3-4 prévias do WPT, esse não foi cumprido. Ser campeã de duplas do europeu da FEPA, campeã da Europa FEPA com a seleção e, seria objetivo também, ajudar Portugal a defender o 3º lugar conquistado no último campeonato do mundo mas não foi possível a nossa participação e isso não foi possível alcançar. O quadro do WPT de Cascais e os resultados alcançados em Challengers do WPT também entram aqui nesta contagem
Vinte por Dez: Sabemos que a época passada estiveste, no WPT, ao lado de Cristina Gonzalez. Esta época já tentaram a entrada no quadro final de Miami. Pretendem continuar a partilhar o campo nos torneios internacionais?
No ano passado joguei um torneio com a Cris. Queria ir à Suécia jogar o WPT e na altura já não jogava com a Patrícia. Falámos e decidimos as duas ir jogar. Na altura não falámos da época seguinte mas como nos demos bem, apesar do resultado no torneio não ter sido bom, fizemos lá bons jogos de treino e tivemos uma onda muito fixe entre as duas.
Decidimos experimentar começar a época juntas. Esta ideia até surgiu na festa de jogadores do Europeu da FEPA, quando no meio de celebrações alguém mandou para o ar “deviam jogar as duas juntas”. Acho que ficámos com a ideia na cabeça que se concretizou mais tarde.
Vinte por Dez: Como foi a preparação desta época que já iniciou?
Desde maio 2020 que estou a treinar no Bloomingskin Padel Academy, em Alcabideche. Inicialmente às ordens do Tiago santos e agora sob o comando do Nuno Afonso e Gonçalo Sales. Acho que foi uma preparação competente, de uma equipa que não estava habituada a trabalhar junta mas que em conjunto foi possível delinear uma estratégia e melhorar dia a dia.
Vinte por Dez: Ao nível do trabalho físico, o que estás a fazer?
Faço trabalho físico todos os dias, sob o comando do Rui Oliveira, do Hugo rodrigues e do Lucas Barbosa, no private Fitness, o ginásio associado ao Blooming e que dá as melhores condições a todos os jogadores que estão cá a treinar (que este ano são muitos!!) de rotina. Tenho o meu aquecimento e exercícios de reforço, dirigido e recomendado pela equipa técnica.
Vinte por Dez: Quais são os grandes objetivos desta época?
Objetivos para esta época – tornar os meus resultados mais consistentes, conseguir ser mais competitiva e poder conquistar torneios da FPP e entrar nas prévias do WPT mais regularmente, acabar o ano no top 80. Tenho também o objetivo de ser convocada para as competições de seleções deste ano e ajudar Portugal a estar nos lugares mais altos da hierarquia mundial e europeia.
Vinte por Dez: Em que consiste a tua ligação à Blooming Skin Padel Academy?
O Blooming é o meu clube desde 2020. É o clube onde irei treinar a maior parte do tempo mas não invalida que não invista na minha contínua formação e não aproveite para ir aprender com outros treinadores.
Em 2022 foi feita uma aposta importante por parte do clube para terem na academia os melhores atletas nacionais, ao constituir uma equipa técnica de qualidade, que trabalha em constante comunicação para dar as melhores condições de treino possíveis aos atletas. Temos condições aqui que não teríamos em grande parte dos clubes.
Vinte por Dez: De que forma é que consegues conciliar a tua carreira de jogadora de Padel com a atividade de medicina?
A vida de atleta profissional com vida de médica sempre foi um desafio. Tenho estado em constante adaptação (risos). Em 2018 fui obrigada a adiar a minha dedicação ao Padel profissional por ter de concluir o internato de ano comum, passo obrigatório na carreira médica para poder exercer medicina autonomamente.
A partir de 2019 comecei a trabalhar por turnos no serviço de urgência do hospital Beatriz Ângelo, onde consoante as disponibilidades dos treinos e torneios, fazia os famosos bancos. Com o aparecimento do coronavírus isto agitou-se um pouco e eu passei a trabalhar mais horas no hospital, mantendo as horas dedicadas ao treino.
Trabalhava 24h por semana, 2x 12h, onde um dos turnos era de noite. Cheguei ao fim de 2021 muito cansada e em conjunto com a minha equipa percebi que tinha que deixar de trabalhar tantas horas, em especial de noite, para poder cumprir com os tempos de descanso.
Então, este ano comecei a trabalhar também no Hospital da Luz, fazendo turnos com menos horas e conciliando melhor. A minha vida é programada ao minuto e só assim é possível cumprir com as diferentes tarefas. Treino todos os dias Padel e físico, tento fazer 1 jogo por semana, e estou a trabalhar 18h por semana, espalhados por 3 dias. Claro que quando viajo para torneios, os meus turnos no hospital são ajustados. Tenho como objetivo profissionalizar-me o mais possível no Padel, tentando ao máximo arranjar financiamento para não depender tanto das horas de trabalho no hospital.
Sei que o meu futuro é a medicina mas por enquanto, enquanto o corpo deixa (risos), quero ser a melhor jogadora profissional de Padel possível.
Vinte por Dez: Por curiosidade, qual a tua opinião relativamente ao Padel em Portugal e ao Padel lá fora?
Acho que o Padel em Portugal tem muito para crescer e cimentar. Neste momento acho que não é sustentável. As seleções estão cada vez mais velhas, mais a feminina. Precisamos de espírito mais jovem. Com isso é preciso investir nos jovens que vão ser o futuro do nosso Padel.
Acho que a falta de cultura desportiva, em especial de alta competição que afeta outros desportos, também afeta o Padel e faz com que todos os atletas sejam menos reconhecidos do que aquilo que deviam. Este facto leva a menos investimento nos atletas e nas condições para termos melhores atletas. Temos cada vez mais jogadores a viver do desporto mas está muito aquém daquilo que devia e pode ser.
O Padel existe em Espanha há 50 anos, por aí, em Portugal existe há 10-15 anos. Isso também diz muito. Mas depois se olharmos para países como França, Itália e Suécia, as grandes potências europeias, que surgiram há menos tempo que Portugal, vemos muito mais investimento no desporto e isso vê-se nos resultados destas seleções no mundial e no europeu. Espero que Portugal continue o seu crescimento e não se deixe apanhar.
Depois de ter lido esta entrevista a Margarida Fernandes, não pode perder mais entrevistas de grande nomes nacionais na área dedicada ao efeito.
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